sexta-feira, 6 de março de 2009

Hoje é dia de tentar, mais uma vez, ser rico.

Meia Europa está a esfregar as mãos. Pelo menos até às 21 horas serão milhões os que sonham com outros milhões, os 100 milhões do Euromilhões. Os portugueses, os mais viciados no jogo, deitam contas à vida. O que fazer com 100 milhões de euros, que é como quem diz 20 milhões dos antigos contos? Quais as razões que levam os mais pobres a apostar mais do que os mais ricos?

Os festejos do quinto aniversário do Euromilhões em Portugal encerram com a possibilidade de a lista de apostadores nacionais contemplados com um primeiro prémio poder aumentar. Até hoje foram 28 os portugueses contemplados com a chave vencedora. Mais sortudos que os portugueses, apenas os franceses. Mas enquanto os portugueses são dez milhões, os franceses são seis vezes mais, como são seis vezes mais ricos e, em consequência, têm seis vezes mais hipóteses de apostar.

“O jogo surge como uma forma de compensar o pouco que se tem. É um escape para tentar reduzir a ansiedade. É uma vida paralela que transmite sensação de poder e controlo, o poder e controlo que a maior parte das pessoas não possuem na vida real”, diz a psicóloga Sandra Sofia Coelho, explicando desse modo os porquês de os portugueses, mesmo sendo os mais pobres entre os países aderentes ao Euromilhões, serem os que mais apostam. De acordo com as estatísticas do departamento de jogos da Santa Casa, Portugal é o país que mais aposta per capita tendo, em 2008, registado um valor de 1,68 euros por semana. O Luxemburgo (onde cerca de um terço da população é portuguesa) surge em segundo lugar na lista, com 1,33 euros de apostas semanais por pessoa.

Sandra Coelho, que no rol de pacientes tem alguns jogadores compulsivos, lembra que “os vícios não são sinónimo de negativismo”. “De certa forma é bom ter vícios, poder sonhar e construir um mundo paralelo para, de algum modo, ter a sensação de poder que a vida real não dá a quase ninguém”, diz a psicóloga. As complicações inerentes ao vício surgem, no entanto, quando o jogador perde o controlo. “Nessa altura não se perdem apenas os bens materiais. Perde-se o controlo e todos os outros valores. Conheço casos de pessoas que perderam todo o controlo pessoal devido ao vício do jogo e acabaram por se prostituir”, afirma.

É para prevenir situações de descontrolo que a o departamento de jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa criou o Grupo de Apoio ao Alto Premiado (GAAP). Este grupo é constituído por pessoas ligadas às mais diversas áreas, como sejam a comercial, a financeira, os sistemas de informação, as relações públicas e o sector jurídico. È para estas pessoas que são encaminhados todos os apostadores contemplados com mais de um milhão de euros. O GAAP, para além de prestar orientação jurídica ou financeira, pode ainda disponibilizar, caso haja necessidade, apoio psicológico.

E não se pense que são poucos os que recorrem aos conselhos dos clínicos quando, de um momento para o outro, se deparam com muitos milhões no bolso. “As pessoas enlouquecem. Conheço uma senhora que não ganhou nada de especial, pouco mais de 500 mil euros, mas que passados uns meses de ter recebido o prémio estava quase tão pobre como antes. Agora continua a trabalhar nas limpezas mas, quando se apanhou com o dinheiro a primeira coisa que fez foi comprar dois carros. Os dois para si”, contou um empregado bancário de uma dependência nas imediações de Lisboa.

A febre do dinheiro, dos 100 milhões que hoje serão distribuídos, sente-se particularmente em Portugal onde, de acordo com as estimativas, a corrida às máquinas para registar boletins terá sofrido um aumento na ordem dos 20 por cento. Planos, no caso de a fortuna bater à porta, há-os aos milhares. Desde os triviais, que passam pela redistribuição da riqueza por familiares e amigos, até aos devaneios mais fanáticos, como o do adepto da Naval 1º de Maio que anunciou a oferta de um estádio novo, para o seu clube caso lhe sorriam os 100 milhões de euros a distribuir esta semana.

Este concurso tem também um atractivo extra. É que se o primeiro prémio sair a um português (e a um único apostador no universo europeu), este passará a ser o cidadão nacional que mais dinheiro embolsou de um só vez no Euromilhões. A 3 de Fevereiro de 2006 houve um jogador nacional que ganhou mais de 61 milhões. Nesse mesmo concurso o bolo total era de 183 milhões (consequência de 11 semanas de prémios acumulados), tendo-se registado mais dois totalistas.

A haver um único apostador que acerte nos cinco números e duas estrelas deste concurso, tal não significa que esse jogador passe a ser o mais premiado de sempre desde que existe o jogo. Esse título está na posse de Dolores McNamara, uma irlandesa que a 29 de Julho de 2005 teve um clarão de sorte que lhe transferiu para a conta a módica quantia de 115,6 milhões de euros.Em Portugal, a corrida às máquinas para registar boletins terá sofrido um aumento na ordem dos 20 por cento.

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