segunda-feira, 16 de março de 2009

"Fui sovado pela minha mãe", disse Fritzl em tribunal.

"Tive uma infância muito dura", disse o "monstro" austríaco na sessão inaugural do julgamento em que responde por crimes de violação, sequestro, incesto, escravatura e assassínio.

O austríaco Josef Fritzl, acusado de ter mantido em cativeiro e de ter violado a filha durante 24 anos, confessa-se culpado dos crimes de violação, sequestro e incesto, mas não dos crimes de assassínio e escravatura. Na primeira audiência do julgamento, que hoje começou em Sankt-Poelten, perto de Viena, e que deverá durar uma semana, Fritzl descreveu uma infância difícil com a mãe solteira, que não o queria ter tido e que lhe batia.

Três juízes e oito jurados, quatro mulheres e quatro homens, vão decidir a punição de Fritzl, que chegou ao tribunal escondendo a cara com uma grande pasta azul, e onde vai responder pelos crimes de homicídio, escravatura, sequestro, violações, ameaças agravadas e incesto.

"Tive uma infância muito dura", explicou o acusado, de 73 anos, perante o tribunal, quando lhe foi pedido para descrever as diferentes etapas da sua vida. Fritzl recordou que não tinha sido uma criança desejada. "A minha mãe não me queria ter. Já tinha 42 anos. Ela não queria simplesmente ter filhos e tratou-me em consequência disso. Fui sovado", relatou com voz calma ao tribunal.

Com 12 anos, Fritzl anunciou à mãe que não toleraria mais ser sovado como era e que a partir daquele momento passaria a defender-se. "A partir daquela altura eu era um diabo para ela", indicou. No entanto, a mãe viveu na mesma casa com o filho até morrer, em 1980.

Em relação ao pai, o acusado afirmou que este apenas "apareceu esporadicamente".

Josef Fritzl tentou justificar a dureza da mãe em relação a si próprio pela infância que tinha vivido. "A vida dela não foi a mais bonita. Ela cresceu numa quinta e começou a trabalhar aos oito anos", precisou. O réu só destapou a cara quando as câmaras abandonaram a sala e a procuradora do Ministério Público encarregue do caso, Christiane Burkheiser, iniciou alegações.

A procuradora considerou que Fritzl tratava a filha como "um cão" e recordou que nos primeiros nove anos de cativeiro Elisabeth viveu num espaço de 18 metros quadrados, onde ficou grávida e deu à luz três filhos.

Anteriormente, o advogado de Fritzl, Rudolf Mayer, indicou recusar a acusação de homicídio, por não reconhecer qualquer responsabilidade do cliente na morte de um dos filhos do incesto, um recém-nascido que morreu no esconderijo por falta de assistência pouco depois de nascer em 1996.

O acusado reconhece que manteve Elizabeth Fritzl em cativeiro numa cave durante 24 anos e que da relação incestuosa com esta nasceram sete filhos, mas negou qualquer responsabilidade na morte do recém-nascido, apesar de admitir que queimou o corpo numa caldeira instalada na cave da casa onde viviam.

Três dos filhos foram educados por Fritzl e pela sua mulher, mas três outros passaram a vida inteira na cave com a mãe sem ver a luz do dia até serem libertados, em Abril de 2008. Elisabeth, actualmente com 42 anos, foi fechada na cave pelo pai a 29 de Agosto de 1984, quando tinha 18 anos. Na altura, Fritzl afirmou que a filha tinha fugido de casa para ingressar numa seita desconhecida, versão aceite pelas autoridades.

Se o tribunal der como provadas as acusações, Fritzl poderá ser condenado a prisão perpétua.

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