segunda-feira, 30 de março de 2009

As sete maravilhas do Atlântico.

Destacar sete locais ou actividades imperdíveis no Atlântico é quase como eleger estrelas preferidas na Via Láctea... Eis a nossa selecção de algumas maravilhas que não deve deixar de ver antes de morrer.

Açores

1º Banco Princesa Alice e Banco D. João de Castro.

Cento e seis milhões duzentos mil quilómetros quadrados de mar - 106.200.000 km2, escrito por extenso, ainda tem mais impacto - e um dos destaques é nosso. Nosso, português, dos Açores. A 90 quilómetros do Pico, esconde-se um tesouro debaixo de água, considerado pelos entendidos como um dos melhores locais de mergulho de todo o Atlântico.

O Banco Princesa Alice - assim chamado porque descoberto a bordo do navio de investigação "Princesse Alice", do príncipe Alberto I, do Mónaco, em 1896 - é uma montanha submarina de águas límpidas, a 500 metros de profundidade, e uma imensa biodiversidade. Ali reina a fauna típica de mar aberto, os chamados "peixes do azul", grandes exemplares em enormes cardumes.

Outro local de mergulho soberbo é o Banco D. João de Castro, um vulcão submarino onde os mergulhadores descem habitualmente ao topo da cratera. Ali, podem ver-se as bolhinhas a sair das frestas, sinal da actividade sísmica. "É como mergulhar num aquário", partilha Luís Quinta, um dos raros privilegiados a ter fotografado estes locais ainda pouco divulgados.
Selvagens

2º Reserva Natural.

Isto corre bem. Sete maravilhas do Mar de Atlas, como a mitologia grega o baptizou, e a segunda ainda é portuguesa... As remotas Selvagens, arquipélago de duas ilhas e várias ilhotas, constituem a zona mais meridional de Portugal.

Pertencente à Madeira, o seu isolamento é inversamente proporcional às suas belezas naturais. A fauna e flora únicas levaram a que fosse declarada reserva natural em 1971, incluindo as áreas submersas. Santuário de pássaros, entre os quais o ex-líbris, as cagarras, as Selvagens têm 150 espécies de plantas diferentes e uma biodiversidade marinha exclusiva. Jacques Cousteau disse que eram as "águas mais límpidas do mundo". Ali onde não há água potável, luz eléctrica ou rede de telemóvel, começam a existir expedições. Já só duas pessoas lá vivem - além da família Zino, proprietária da única casa privada da ilha, que lá passa temporadas.

Até 1971, as Selvagens eram pertença de um particular, Luís Rocha Machado, que as vendeu por 1000 contos ao Estado português, depois de já estar assinado um contrato com o World Wildlife Fund - um negócio do século para Portugal...
Noruega

3º Fiordes.

Ao largo da Noruega, todos os anos se pode ver uma das maiores povoações de orcas. Quase um milhar de killer whales segue religiosamente as migrações do arenque, o seu petisco preferido, e, em Outubro, chega ao fiorde de Tysfjord.

Aí, nessa grande entrada de mar rodeada de altas montanhas rochosas que a Unesco classificou património mundial, o viajante pode unir duas maravilhas e fazer um "safari de orcas". De Tysfjord saem barcos para ver estes gigantes marinhos, que facilmente medem 9 metros e pesam até 9 toneladas - não espanta que precisem de comer 70 quilos de arenque por dia. Os mais corajosos podem mesmo embarcar numa aventura mais radical e fazer snorkeling com elas.

Apesar do nome assustador, as killer whales não são nem baleias, nem assassinas - na verdade, são golfinhos, e não há um ataque a humanos documentado. Imagine a sensação de estar no meio delas, na sua posição de spy hopping, o corpo meio de fora, na vertical...
Cabo-Verde

4º Tartarugas.

O fenómeno da desova das tartarugas existe em vários sítios pelo Atlântico. Se for às ilhas da Boavista ou a Maio - "um dos cinco ou seis locais para posturas mais importantes do mundo", palavra do professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve, Nuno Loureiro -, poderá assistir a esse fenómeno quase mágico, sempre nocturno.

Em Julho, Agosto e Setembro, tartarugas-comuns, tartarugas-verdes e tartarugas-de-pente (estas em perigo de extinção) põem ovos naqueles areais. Há três anos que a Universidade do Algarve, com o financiamento do Oceanário, desenvolve projectos de protecção das tartarugas em Cabo Verde, e iniciou outro no Príncipe, em São Tomé.

O professor passa quatro meses por ano em Santiago e na Boavista, em trabalho de campo. Este Verão, aceitam-se voluntários. Alguém quer umas férias diferentes?
Guadalupe

5º Tubarões.

São os reis do oceano - e é sonho de muitos "machos adultos" mergulhar com eles, ao lado deles, ou protegidos dentro de uma jaula, mas sentindo a emoção do frente a frente.

Mergulhar com tubarões brancos leva todos os anos centenas de pessoas à ilha de Guadalupe, a 240 quilómetros do México. O animal cuja fama Steven Spielberg viria a denegrir para sempre é "famoso" pelo comportamento agressivo. Mas em perfeita segurança, mergulhadores e não mergulhadores (acompanhados de instrutores) podem olhar no olhos (vítreos, diga-se) deste predador, dentro de 'gaiolas' espaçosas com visão de 360 graus que descem para dentro de água.

Aconselham-se cores neutras para os fatos de mergulho, para não despertar a agressividade do tubarão. A melhor altura para experimentar esta aventura é de finais de Setembro a finais de Novembro.
Bermudas

6º Triângulo.

Quanta tinta não correu já sobre o Triângulo das Bermudas? A figura geométrica mais famosa de todos os tempos abarca uma vasta área de 3.950.000 km2 do Atlântico, com um vértice na Florida (EUA), outro nas Bermudas e o último nas Grandes Antilhas.

Já no século XV os nossos marinheiros navegaram pelo mar quente dos Sargaços e reportaram a anormal quantidade de algas e outros fenómenos estranhos, como a ausência de vento. O Triângulo das Bermudas ganhou fama sobretudo na segunda metade do século XX. Só a contar de 1973, a Guarda Costeira norte-americana contabilizou mais de 8000 pedidos de ajuda, 50 embarcações e 20 aviões desaparecidos sem rasto. As hipóteses avançadas são as mais diversas. Mistérios à parte, os habitantes das Bermudas rentabilizaram a fama com visitas aos destroços dos barcos afundados para mergulho ou snorkeling.

Aqui, a palavra de ordem bem podia ser a máxima do Instituto de Socorro a Náufragos nos anos 80: "Há mar e mar, há ir e voltar". E mesmo que não queira arriscar-se a descobrir, pode sempre gozar um merecido descanso nas águas mornas do arquipélago.
Açores

7º Submarino Lula.

Terminamos de regresso a Portugal. Ter o privilégio de andar num submarino e ver o fundo oceânico é graça que não se repete todos os dias. Mas provavelmente, nunca mais se esquece.

No Faial, desde 2000 que se pode descer até 500 metros de profundidade e explorar o admirável mundo subaquático a bordo do "Lula", construído pela Fundação Rebikoff-Niggeler, de Joachim e Kirsten Jakobsen. Três pessoas é a lotação máxima. Ir ao fundo e voltar é possível, mas não barato: um mergulho de observação do oceano (de três a cinco horas), para "turistas normais", fica em €2500. Um treino de pilotagem, com mergulho de profundidade baixa (25 a 40 metros) custa €1500, e dois dias, com mergulho de águas fundas (400 a 500 metros) cifra-se em €3800.

Mas poderá sentir-se como Júlio Verne e 'gabar-se' de ter andado num dos poucos submarinos de investigação científica do mundo.

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