segunda-feira, 30 de março de 2009

Marido de ministra britânica via filmes porno à conta dos contribuintes.

Escândalo provocado por despesas com filmes porno de marido da ministra do Interior faz aumentar pressões para mudar leis de atribuição de subsídios aos deputados.

A ministra do Interior britânica, Jacqui Smith, gastou quase 25 mil euros de dinheiros públicos em despesas domésticas, revelou hoje o Parlamento. A conta inclui dois filmes pornográficos vistos pelo seu marido e assistente, pagos pelos contribuintes.

O caso está a envergonhar Gordon Brown já que esta semana vai ser anfitrião da cimeira do G20 e receber, entre outros líderes, o Presidente americano Barack Obama.

Jacqui Smith - que é ministra e deputada, prática corrente no Reino Unido - aproveitou o subsídio para parlamentares moradores fora de Londres de forma considerada pouco ética, embora legal. Está sob investigação parlamentar pela forma como utiliza dinheiro público para fins privados.

Em causa está o subsídio de custos adicionais, criado para compensar os deputados não-londrinos por terem de trabalhar na capital e no círculo político pelo qual foram eleitos. A maioria usa esse dinheiro - que tem um tecto máximo de 23 083 libras (24 875 euros) - para manter uma segunda casa na capital, perto do Parlamento. Smith fica em casa de uma irmã, em Londres, e considera "segunda casa" a sua moradia de Redditch, no condado de Worcestershire, onde vivem o marido e os filhos. Em resultado, todos os gastos relativos a essa residência são suportados pelos contribuintes.

O marido da ministra, Richard Timney, é também seu assistente, com um salário anual de 40 mil libras (43 mil euros). Entre outras funções, envia ao Parlamento as facturas das despesas que a ministra pode reclamar ao Estado. Em Junho de 2008, Timney incluiu nessas ajudas de custo 67 libras (72 euros) de uma subscrição de televisão por cabo, que incluía dois filmes pornográficos, a cinco libras cada, além de "Ocean's 13" e "Dia de Surf". Os filmes foram vistos pelo marido em Abril do ano passado, em Redditch, enquanto a ministra estava em Londres.

A ministra, muito criticada pela oposição e pelos jornais, pediu desculpa e explicou que "foi por engano" que incluiu a TV por cabo nas ajudas de custo, pois só pretendia apresentar a conta da Internet. Smith prometeu devolver o dinheiro. Embora as facturas fossem entregues por Timney, a ministra tinha de as assinar, declarando tratar-se de despesas ligadas ao cargo que ocupa.

No ano parlamentar 2007/2008, Smith gastou 22 948 libras (24 759 euros) de dinheiros públicos na casa de Redditch, revelou a Câmara dos Comuns. Do lava-loiças à rolha da banheira, escreve o diário "Daily Mail", nada foi comprado com o salário da ministra (141 866 libras por ano, isto é, mais de 153 mil euros), mas com o subsídio de custos adicionais. Somando às despesas de casa as viagens, os gastos do gabinete e o pessoal, Smith gastou 157 631 libras (170 mil euros). Este valor, que inclui 25 deslocações de Timney, é superior aos subsídios de gastos adicionais de Gordon Brown (124 mil libras) e do líder conservador David Cameron (149 mil libras).

Mais de um milhão de facturas em análise
A factura da polémica, aceite sem problemas pelo departamento de contas da Câmara dos Comuns, foi mais tarde incluída num lote de mais de um milhão, que vários juízes pediram aos deputados no âmbito de uma campanha pela liberdade de informação. Vários deputados pedem, agora, que a polícia averigúe como a factura da ministra chegou às mãos dos jornalistas. Temem que haja alguém infiltrado no departamento de contas ou que um dossiê tenha sido roubado.

O primeiro-ministro defendeu a ministra, argumentando que se trata de um "problema pessoal". Recusou-se a demiti-la e elogiou o seu trabalho. Cameron não exigiu a exoneração de Smith, mas criticou Brown por não ter cumprido a promessa de mudar as regras do subsídio de gastos adicionais. "Só vai revê-las em Setembro (...) é uma desgraça. Temos de avançar, rever as regras rapidamente, já, resolver o problema e chegar a uma resposta".

Ainda assim, a generalidade dos jornais britânicos não aposta muito no futuro político de Jacqui Smith, admitindo-se que possa ser substituída na altura das eleições europeias. O caso dos filmes é caricato para uma ministra que foi dura com a indústria do sexo e tentou, inclusive, fechar clubes de dança erótica e strip-tease. Quanto ao marido, de quem os amigos dizem que "irá dormir no sofá por muito tempo", deixou a profissão de engenheiro em 1997, quando Smith foi eleita deputada. Em Dezembro do ano passado, descobriu-se que Timney escrevia cartas com pseudónimo a jornais locais de Worcestershire, a elogiar a política da mulher.

O austero Gordon Brown, filho de um pastor presbiteriano, tem motivos acrescidos para se preocupar, num momento em que os conservadores lideram as sondagens. Jacqui Smith é o segundo membro do Governo cujos subsídios são investigado, depois do ministro do Emprego, Tony McNulty. Este recebia milhares de libras para manter uma casa em Harrow East, a sua circunscrição eleitoral, que fica fora de Londres, mas meros oito quilómetros do Parlamento, explica a BBC. McNulty vive noutra casa, em Londres, e só aos fins-de-semana vai à casa de Harrow East, ocupada pelos seus pais.

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