segunda-feira, 23 de março de 2009

Cérebro tem 'ilha' que detesta perder dinheiro.

Se a crise lhe dá a volta ao estômago, esta notícia é para si. É que a ligação do cérebro ao estômago também passa afinal pela carteira.

Expressões como "dá-me um nó no estômago" ou "essa é difícil de engolir", que ligam reacções a situações adversas com a nossa função digestiva, podem afinal fazer mais sentido do que à partida se poderia pensar.

Um estudo recentemente efectuado por especialistas da Universidade de Stanford, na Califórnia, revela que existe uma parte do cérebro, chamada ínsula (derivado de ilha), que desempenha um papel importante na forma como reagimos emocionalmente com as perdas, incluindo as crises financeiras.

Rica em receptores de dopamina, a ínsula está ligada às emoções, à motivação e também aos comportamentos viciantes. Está também associada às chamadas reacções viscerais, provocadas por cheiros nauseabundos ou pela antecipação da vertigem de uma montanha russa. O que os cientistas descobriram é que também o dinheiro, ou a falta dele, pode provocar o mesmo tipo de reacções, devido à mesma região do cérebro.

Segundo os neurologistas (Shiv B, Loewenstein G, Bechara A, Damasio H, & Damasio, entre outros), ao passo que as células da ínsula não respondem quando os investidores ganham dinheiro em apostas ou investimentos, o mesmo já não acontece quando o dinheiro 'lhes foge'. "Quanto mais as células ficam activas após uma perda avultada, maior a hipótese de não correr riscos numa próxima aposta", garantem os cientistas.

Para os investigadores, é a antecipação da perda e não a perda efectiva, que desencadeia a reacção do cérebro, situação explicada pelo 'instinto' da espécie humana, necessário à sua própria sobrevivência.

Mas, quando aplicamos o 'instinto' à parte financeira, isso pode ter custos elevados. Um outro estudo colocou lado a lado várias pessoas, com 20 dólares (cerca de €15) cada uma. Foi-lhes pedido que tomassem uma série de decisões financeiras: para apostar um dólar, ou para ficar com ele.

Após cada rodada de decisões, os investidores atiravam uma moeda ao ar: caras perdiam 1 dólar, coroas ganhavam 2 dólares e meio. De acordo com as probabilidades, existiam 13% de hipóteses de acabar com menos de 20 dólares após 20 rodadas, pelo que fazia sentido apostar o dólar todas as vezes. Mas não foi isso que aconteceu: afinal, acabaram por escolher apostar apenas em 58% das vezes.

Num segundo grupo, de pessoas com danos cerebrais justamente na área da ínsula, os investidores apostaram o seu dólar 84% das vezes, muito à frente dos jogadores ditos 'normais'.

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