Depois do sismo de terça-feira no Haiti, a jornalista portuguesa Mariana Palavra descreveu, num e-mail aos amigos, os momentos que viveu durante o abalo e sublinhou a vontade de ficar naquele país.
“Eram umas 5pm (hora local), eu entretida a escrever a minha tese de mestrado (desporto para a paz e desenvolvimento - o caso do Haiti (...) no escritório (...), quando parece que a terra tremeu. Ainda pensei que era engano. O Haiti tem lá os seus problemas, mas terramotos não constavam na lista”, começa por escrever.
“Mas continuava a abanar e todos se atiraram para o chão, para baixo das respectivas secretarias, menos o Patrick, claro, sempre a agir com um certo delay”, acrescenta a jornalista que mantém sempre um tom positivo na mensagem e até brinca com as reacções dos colegas que estavam com ela na zona do edifício das Nações Unidas que não ruiu, em Port au Prince.
Após o abalo, “todos correram à procura de uma saída”, mas Mariana Palavra, que trabalha para a rádio das Nações Unidas, não saiu da sala sem antes arrumar e recolher os papéis da tese de mestrado. “Lá fui, finalmente, descobrir que a saída do edifício estava bloqueada com destroços da parte central (e principal) do edifício que tinha acabado de ruir. A única saída foi uma janela de um terceiro andar, através de um escadote que caiu ali do céu e das mãos de vários militares que tinham conseguido sair dos respectivos escritórios”, diz na mensagem.
Mariana Palavra descreve uma confusão generalizada, já que ninguém sabia “bem qual o sítio ideal para os sobreviventes”, lembra os gritos da população e que o edifício das Nações Unidas, de seis andares, “passou a um andar, talvez dois, que diferença faz?”. “O pior estava à frente dos nossos olhos, durante cerca de setes horas. Todos sabíamos (e sabemos) de cor, quem trabalhava naqueles pisos”, explica.
De madrugada, os sobreviventes foram transferidos para outra base da ONU e pelo caminho perceberam a força do abalo sísmico. “Casas transformadas em pó, cúpulas/telhados/coberturas de vivendas caídas no meio da estrada, um centro comercial de quatro andares transformados num telhado raso (...) e nas principais artérias da cidade, a população procurou ontem e hoje um canto para dormir nos passeios, na separação das vias, ou no meio da estrada mesmo”.
“Ao longo de vários quilómetros casas arrasadas, mas ninguém nas operações de salvamento” e hoje, à luz do dia, o cenário “não é pior nem melhor, é igual... sem palavras”, escreveu Mariana ao salientar que a única diferença “é que se vêem os mortos (as vezes amontoados à meia dúzia) deixados à beira da estrada, embora nas ultimas horas já com lençóis por cima dos rostos”. Mariana Palavra conseguiu também ir à sua casa que ficou de pé e explica que agora tenta manter-se ocupada. Trabalhou na actualização da lista de sobreviventes, leu e-mails dos amigos.
“Tudo para não ir dormir tão cedo, tudo para não ter que acordar e ouvir o que todos estamos a espera”, assinalou.
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