O cenário da fusão da maioria dos glaciares dos Himalaias (Tibete) até 2035, assumido no último relatório da ONU sobre o clima, não tem suporte científico. A previsão de que todos os glaciares das regiões central e oriental dos montes Himalaias (Planalto do Tibete) poderão desaparecer até 2035, devido ao impacto do aquecimento global, não tem fundamento, reconhecem cientistas ligados ao Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) da ONU.
A notícia, avançada inicialmente pela edição online do diário britânico The Sunday Times, vem pôr em causa uma tese emblemática sobre o aquecimento global defendida pela maioria dos cientistas, e incluída em 2007 no último relatório do IPCC, documento que serve de apoio científico às negociações climáticas, como a recente Cimeira de Copenhaga.
Recorde-se que a rápida fusão dos glaciares dos Himalaias, que cobrem cerca de 17% da área da região, tem sido um dos temas-chave de Al Gore nas suas conferências por todo o mundo e foi uma das bandeiras do seu famoso livro e documentário "Uma Verdade Inconveniente".
Glaciares fornecem mais de metade da água a 40% da população mundial.
No livro, o profeta do clima e Nobel da Paz 2007 afirmava que "os glaciares dos Himalaias estão entre os mais afectados pelo aquecimento global", sendo esta situação muito preocupante porque "os Himalaias contêm cem vezes mais gelo que os Alpes e fornecem mais de metade da água potável a 40% da população mundial, através de sete grandes rios asiáticos" que nascem no Planalto do Tibete.
O ministro do Ambiente e Florestas da Índia, Jairam Ramesh, tem vindo a defender nos últimos meses que os glaciares dos Himalaias não estão a desaparecer, com base num estudo do cientista indiano Vijay Kumar Raina.
Neste estudo, onde foram analisados cem anos de dados sobre 20 grandes glaciares, o cientista afirma que "é prematuro concluir que os glaciares dos Himalaias estão a recuar de uma forma anormal por causa do aquecimento global".
Raina explica que "um glaciar é afectado por um conjunto de características físicas e de interacções complexas de factores climáticos". Por isso, é improvável que o movimento de qualquer glaciar possa ser atribuído a uma variação climática periódica até que muitos séculos de observações possam estar disponíveis".
Ministro indiano acusa Nobel da Paz de alarmismo.
O cientista indiano Rajendra Pachauri, Nobel da Paz 2007 com Al Gore e presidente do IPCC, classificou este estudo de "ciência vodu", alegando que não usava métodos científicos mas, segundo a imprensa indiana, Jairam Ramesh afirmou hoje em Ahmedabad (Índia) que as declarações de Pachauri sobre os glaciares dos Himalaias "são alarmistas e criam um sentimento de pânico".
O ministro insiste que os avisos do IPCC "não se baseiam em qualquer evidência científica" e, apesar de admitir que os glaciares estão a derreter, insiste que "é completamente errado dizer que todos eles irão desaparecer até 2035 devido ao aquecimento global".
Os factos acabaram por dar razão ao governo indiano, depois de vários cientistas do IPCC admitirem agora, segundo o The Sunday Times, que o alerta sobre o desaparecimento dos glaciares do Planalto do Tibete era sustentado em pressupostos científicos errados.
E o próprio Rajendra Pachauri garantiu à agência Reuters que o IPCC vai tomar uma posição sobre os glaciares dos Himalaias dentro de poucos dias.
The Scientist: afirmações especulativas.
Tudo começou em 5 de Junho de 1999 com a publicação de um artigo na revista científica britânica New Scientist sobre um relatório do desconhecido cientista indiano Syed Hasnain, da Universidade de Jawaharlal Nehru, em Nova Deli.
O relatório dizia que a maioria dos glaciares da região dos Himalaias iria desaparecer dentro de 40 anos, devido ao impacto do aquecimento global. Mas o artigo da revista britânica baseou-se apenas numa curta entrevista telefónica e Syed Hasnain admitiu posteriormente que as suas afirmações à New Scientist eram pura "especulação", de acordo com o Sunday Express.
Julian Dowdeswell, especialista em glaciares da Universidade de Cambridge, explicou a este jornal que "um glaciar tem em média cerca de 300 metros de espessura e, mesmo que derretesse a cinco metros por ano (um ritmo elevado), demoraria 60 anos a desaparecer".
Ora um fenómeno deste tipo "é bastante mais rápido do que qualquer outro que tenha sido observado até agora, pelo que a ideia do desaparecimento de todos os glaciares em 2035 é muito irrealista".
Entretanto, esta semana soube-se que os glaciares do Alasca derreteram mais lentamente do que se esperava entre 1962 e 2006, segundo as conclusões de uma equipa científica franco-canadiana, que estudou imagens de satélite.
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