sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Facebook: desamigar é a nova palavra.

Ela tem um amigo que um dia a desamigou. No dia em que ele a desamigou do Facebook ela não percebeu. Quem desamiga alguém numa rede social fá-lo sorrateiramente. O outro nem nota. Até um dia. Nesse dia em que ela percebeu que o seu amigo a tinha desamigado - bastou-lhe para isso ir ao perfil dele no Facebook, espiolhar o que ele andava por lá a fazer -, foi apanhada de surpresa.

Primeiro estranhou, achou que era um erro. Ops! Afinal não era. O amigo tinha mesmo clicado para a afastar. Ela resolveu reagir. Esse amigo era seu amigo na vida real. Ligou-lhe. Atendeu o atendedor de chamadas. Falou para um gravador. Deixou-lhe uma mensagem bastante desesperada. Ele percebeu então que no Facebook também se magoa. Tudo se resolveu, mais tarde, entre os dois numa conversa telefónica. Ele disse por que tinha tomado aquela atitude, ela deu explicações. Ele voltou a adicioná-la como amiga. Ela aceitou.

Esta história poderia ter acontecido com qualquer pessoa inscrita numa rede social. Os pormenores podem ser diferentes, o final da história não ser tão feliz, mas esta coisa de unfriend ou desamigar alguém entrou definitivamente nas nossas vidas. Mesmo aqueles que não fazem parte dos mais de 350 milhões de utilizadores em todo o mundo sabem que no Facebook se pergunta a alguém se quer ser nosso amigo; que essa pessoa pode dizer que sim ou ignorar-nos e que depois, se a coisa não corre bem, há sempre a possibilidade de desamigar. Tal como na vida real? Quase.

Tudo isto vem a propósito da entrada, em Novembro, da palavra unfriend no New Oxford American Dictionary. Foi aliás escolhida como a palavra do ano: unfriend, o verbo desamigar, que significa retirar alguém de uma rede social da Internet, abolindo o seu estatuto de "amigo".

Basta uma busca rápida nos fóruns ligados às discussões sobre esta rede social para se perceber que a pergunta "How do you unfriend someone?", como é que se desamiga alguém, gera um grande interesse. Deanna Keahey, de São Francisco, explicava: "Já tive de fazer a mesma coisa. Clica-se no perfil dessa pessoa, vai-se até ao fim da página e lá existe um link onde se lê: "Remove from friends."

É exactamente assim. Depois de se fazer clique ainda aparece a pergunta: "Tem a certeza que quer retirar esta pessoa da sua lista de amigos?" Se sim, ela desaparece da nossa vista/lista para sempre. E através da aplicação UnFriender ficamos a saber se fomos desamigados.

No início deste ano a Burger King fez a campanha Whopper Sacrifice no Facebook e causou polémica. Quer ganhar um Whopper, um hambúrguer, grátis? Então desamigue dez pessoas no Facebook. Este era o tema da campanha publicitária da agência Crispin Porter + Bogusky (CPB) de Miami e que foi suspensa. Está já a ver qual a frase escolhida para slogan: "Friendship is strong, but the Whopper is stronger."

Não se sabe se pela cabeça dos fundadores do Facebook, Mark Zuckerberg e Eduardo Saverin, passou alguma vez a ideia de que os utilizadores do site iriam estar preocupados com esta coisa de desamigar. É que o Facebook nasceu porque eles queriam conhecer outras pessoas. "Eles só queriam conhecer algumas miúdas..." é a frase que Ben Mezrich, autor do livro Milionários Acidentais - A Criação do Facebook: Uma História de Génios, Sexo, Dinheiro e Traição (que irá ser publicado em Janeiro pela Lua de Papel), mais tem utilizado para explicar como é que nasceu esta rede social em 2004.

Na verdade tudo começou com o sucesso repentino de um site tosco que Mark Zuckerberg criou. Aí os universitários de Harvard podiam ver fotografias das colegas, colocadas lado a lado, e votar naquelas que considerassem mais giras. Foi por isso que Mark Zuckerberg percebeu que as pessoas queriam ir à Internet para saber mais sobre os amigos e entre imensas peripécias nasceu o Facebook.

Para Ben Mezrich, que esteve em Maio na Book Expo America, em Nova Iorque, este site foi pensado para ser uma comunidade de amigos online e cumpriu o objectivo. "Embora estivesse no ar há tão pouco tempo, realmente estava a mudar a vida em Harvard. Insinuava-se na rotina de toda a gente; levantávamo-nos, verificávamos a conta do Facebook para ver quem tinha feito um pedido de amizade e quais os nossos convites que tinham sido aceites ou recusados", lê-se no livro Milionários Acidentais.

"Quando chegávamos a casa, se tínhamos visto uma determinada rapariga na aula - ou apenas no refeitório -, simplesmente procurávamos por ela no Facebook e fazíamos um pedido de amizade. (...) Quando a miúda abrisse a sua página, ia receber o nosso convite e ver a nossa fotografia e talvez aceitasse o convite." Era assim em 2004, quando o Facebook surgiu e se destinava apenas a estudantes (só desde Setembro de 2006 é que é aberto a toda a gente). Desde então muitas coisas mudaram, outras nem por isso.

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