terça-feira, 30 de junho de 2009

Já falecido, Michael Jackson desencadeia vaga mortífera.

Resulta sempre, isto de viver depressa e morrer jovem. A popularidade post mortem de Michael Jackson provoca avalanche de outras mortes prematuras (e fictícias). Fora o falecimento de um original tão fascinante como Michael Jackson, estou muito contente com o estado das coisas, especialmente com a nova moda necrológica: vamos todos fingir que morremos para a nossa cotação no mercado subir em flecha!

Boa sorte. Mas parece que é isso mesmo que está a acontecer. Há tanta gente boa a morrer inesperadamente que dentro de dias já não há gente famosa de pé, vítimas todos de um virus celebritatis fora de controlo. Primeiro foi a Farrah Fawcett. Depois, o choque do Michael Jackson. Agora anda por muita gente a dizer que morreram o George Clooney e a Natalie Portman. Não, claro que este dois últimos ainda estão vivos da silva mas, sim, é verdade, anda por aí um monstrinho a espalhar boatos. Os próprios agentes dos actores tiveram que reagir perante tantos telefonemas alarmados vindos de tanto lado.

Motivo por trás desta brincadeira liceal? Há quem diga que são todos boatos fabricados pela própria indústria do entretenimento, apenas mais uma manobra de diversão e comércio para espicaçar o interesse global pelo mundo da fama. Dado que visibilidade é fundamental e Hollywood continua a ter os melhores manequins, as melhores montras em movimento, os melhores vestidos technicolor, heróis, caras e produtos, é preciso que o público continue a comprar Hollywood. Nada como uma morte chocante, verdadeira ou fictícia, para atirar um bocadinho de cafeína no mercado. Até a Internet fica feliz, cheia de tráfego e vendas.

Quando a morte de Michael Jackson quase mandou abaixo a Internet, ficou claro que o rapaz tinha um poder que ia além do imaginado. De repente, um tsunami de emoção percorreu o mundo. Facebook e Twitter transformaram-se numa lentidão melosa provocada pelo excesso de tráfego. Hoje, o fenómeno estendeu-se a outras áreas. Fama e dinheiro, sempre de mãos dadas.

Na Internet, sites com o nome Michael e Jackson foram vendidos há dias por preços exorbitantes. Os álbuns do cantor subiram quase todos ao topo de vendas. Na Coreia do Sul, as discográficas que fabricam CD trabalham noite adentro para poderem satisfazer a procura mundial. A "Time" publicou uma edição especial da revista, as maratonas televisivas continuam nos Estados Unidos e na Itália, e há uma resma infindável de livros sobre o King que aparecerão dentro em breve numa livraria perto de si.

Blindar o património.
As notícias de hoje foram dominadas pelo património: a mãe de Michael Jackson, para além de ter mandado logo uns camiões das mudanças recolher os haveres que o filho deixara na mansão em Bel Air onde foi encontrado inconsciente, hoje foi a correr ao tribunal pedir a custódia dos netos e dos bens materiais ainda por avaliar. Ao demarcar território, os Jackson de Los Angeles querem, sobretudo, deter a vaga de vândalos que se prepara para ferrar o dente no legado cultural, e bilionário, que o cantor deixou para trás.

Jackson tinha muitas dívidas mas a sua produção artística é vastísssima e capaz de ser multiplicada em muitas outras ideias lucrativas. Do catálogo dos Beatles à simples imagem registada das inúmeras fases de reinvenção, só isso dá para alimentar um império. A promotora dos concertos de Londres, AEG Live, percebeu que, mesmo sem cantor, ainda pode fazer dinheiro: hoje oferece a quem já tinha bilhete comprado a possibilidade de não pedir reembolso. Toda a gente sabe que o valor facial de um ingresso anda, actualmente, abaixo do valor de mercado. Numa época de crise é um valor duradouro como outro qualquer. Definitivamente mais estável que o dólar.

Novas novíssimas.
1) A Polícia que está a investigar as últimas horas do cantor foi lá a casa fazer uma rusga farmacêutica. Não foram buscar nada senão os comprimidos que Jackson, aparentemente, consumia. Saíram com dois sacos do lixo tamanho gigante, a abarrotar.

2) Já começaram as piadas. No seu espectáculo em Nova Iorque, Joan Rivers acordou o público com: "O Michael Jackson morreu. A Cher anda felicíssima. Agora até pode dispensar a escolta policial quando levar os namorados ao parque infantil". Oh shut up. E não vale a pena ficarem chateados porque, não sei se sabem, morri.

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