sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sismo: E se tivesse sido em Portugal?

A pedido do Expresso, o simulador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil recriou o sismo de Itália nas proximidades de Lisboa. O resultado seria bem mais negro: 3.598 edifícios destruídos, 1.160 mortos e 168.467 desalojados.

Se, porventura, tivesse ocorrido um sismo semelhante ao de Itália na zona de Lisboa, que consequências teria? Parece uma pergunta de retórica mas não é. O Simulador de Cenários Sísmicos do LNEC (LNECloss) permite dar-lhe resposta.

A pedido do Expresso o LNEC imaginou um cenário em que um sismo de origem local e de intensidade semelhante ocorria em Lisboa. O epicentro arbitrado foi Sacavém e o sistema adaptou a ocorrência à realidade portuguesa, desde os solos ao tipo de povoamento, características das construções, etc.

O resultado seriam 3.598 edifícios destruídos, mais 11.680 gravemente danificados, correspondendo a 1.160 mortos e 168.467 desalojados. Ou seja, um balanço muito mais negro que o do sismo de L'Aquila, basicamente por ocorrer numa região muito mais densamente povoada. Ainda assim, o número de mortos representaria 0,038% dos habitantes da Grande Lisboa e o número de casas destruídas ou muito danificadas 3,2% do parque edificado.

Os gráficos que acompanham este texto ilustram a forma como esta situação se sentiria no terreno, sendo patentes duas observações: à medida que nos afastamos para longe do epicentro os efeitos diminuem, com algumas anomalias explicáveis devido à constituição do subsolo e a diferentes condições de propagação das ondas sísmicas.

Alfredo Campos Costa, investigador do LNEC sublinha tratar-se de "um mero cenário para estudo" e não de algo "que seja provável acontecer". Sublinha, ainda, que há diversas metodologias para estimar o número de mortos e que estas basicamente tomam em conta a quantidade de edifícios destruídos. "Consoante se analisem sismos ocorridos nos Estados Unidos ou no Terceiro Mundo, a observação mostra que o número de óbitos por edifício é muito diferente".

Outra das simulações já feitas diz respeito à ocorrência de um terramoto com a magnitude e o epicentro do de 1755. Se este cenário se repetisse, hoje haveria 27.779 mortos e 26.253 edifícios totalmente destruídos. Ainda que em números absolutos a maior parte dos óbitos ocorresse na Grande Lisboa, incluindo Sintra, Cascais e Oeiras, bem como Setúbal, em percentagem da população atingida os piores valores ocorreriam no Algarve. No que respeita a casas derrubadas, o efeito nesta última região seria ainda maior, à escala, que em Lisboa, afectando 14 a 30% do parque habitacional respectivo. Globalmente, as perdas de vidas representariam 0,28% da população continental, enquanto os edifícios colapsados equivaleriam a 0,88% do parque habitacional. Esta simulação não toma em conta os efeitos de um eventual tsunami na costa portuguesa, situação ocorrida em 1755.

O LNECloss integra dados sobre a sismicidade passada, as características dos solos, o tipo de construções e a distribuição da população. Um sistema de informação geográfica permite implantar com rigor os diversos dados no mapa. Introduzindo os dados de um sismo podem simular-se os efeitos até à escala de freguesia.

Como explica Ema Coelho, chefe do departamento de engenharia sísmica do LNEC, este simulador permite duas coisas: traçar planos para minimizar os efeitos de um futuro tremor de terra (licenciamento, construção, recuperação, protecção civil, etc) e, a ocorrer uma catástrofe, acompanhá-la em tempo real, ajudando a organizar a resposta e gerir mais eficazmente os meios de socorro.

O simulador, já plenamente operacional, nasceu de um projecto financiado pelo Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil em 2002 para a Grande Lisboa mas continuou a ser desenvolvido desde então. Futuramente já integrará o factor tsunami (pelo menos para o Algarve) e poderá ser consultado "on-line" por utilizadores profissionais (Câmaras, Protecção Civil, projectistas, etc).

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