quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Mercado do sexo não escapa à crise.

"Costumo brincar dizendo que, em Portugal, há mais acompanhantes que clientes". As palavras de Paula Lee, uma call girl brasileira de 27 anos, são o testemunho que, em tempo de vacas magras, já nem o sexo escapa à crise. Dados oficiais de um sector que evolui à margem da economia não existem, mas basta falar com alguns 'actores' deste meio para perceber que a prostituição e os negócios associados ao sexo e à sensualidade não escapam aos dias cinzentos da economia.

"Tenho sentido uma diminuição na procura de clientes e de forma significativa", admite Isabella, outra acompanhante, também loira e de 27 anos mas portuguesa. Ainda que o sector da prostituição de luxo seja aquele que, pela natureza dos clientes, melhor vai escapando à crise, é inegável que o negócio já viveu dias mais prósperos em Portugal.

"Não se ganha dinheiro como há uns 5 anos, por exemplo", garante Paula. "Este sector foi muito explorado em Portugal, até ao ponto em que atingiu uma saturação". Ainda que admita que a procura tenha vindo a diminuir - sublinhando, contudo, que tal não tem acontecido no seu caso -, a acompanhante aponta o aumento da concorrência como o principal responsável pela crise no sector. "Todos os dias recebo e-mails de mulheres, e por vezes também de homens, que querem entrar nesta actividade, a maioria para suprir dificuldades financeiras. Se a base de clientes é praticamente a mesma e o número de acompanhantes aumenta, isso significa que o número de clientes para cada uma delas será cada vez menor".

Mais relações desprotegidas
A crise, defende a acompanhante, está por isso "mais ligada a quem oferece do que a quem procura". Um fenómeno que provoca um efeito de dominó preocupante: como algumas prostitutas baixam o preço dos honorários para ganhar clientes, as restantes acabam por fazê-lo também. Para o cliente, é sempre vantajoso, mas Paula garante que a situação é acompanhada de "uma deterioração da qualidade do serviço".

Principalmente preocupante, alerta, é o número de profissionais do sexo que acedem a ter relações desprotegidas. "Há três anos, haveria no máximo 25% de acompanhantes que cediam a algum tipo de relação sexual desprotegida. Hoje, pelos menos 60% fazem-no, porque os clientes assim o querem e, se não o fizerem, perdem clientela. Tenho quatro amigas com SIDA que continuam na actividade", revela.

Casas de strip com menos clientes
Quem também não escapa à crise são as casas de strip-tease, muito longe dos tempos dourados do final dos anos 90. "Existe uma notória diminuição de clientes mas, pior do que isso, os que continuam, salvo raras excepções, pouco consomem", revela ao Expresso o dono do clube de uma casa nortenha, que preferiu escudar-se no anonimato. No início da década existiriam no Norte do país "entre oito a 10" clubes de strip. Hoje resistem dois, que, à semelhança do que acontece com "muitas casas de alterne", correm o risco de encerrar "se a situação económica das pessoas não se alterar rapidamente".

Para manter o negócio, o empresário tem sido obrigado a reduzir os cachet" e dispensar alguns funcionários. Diminuir o número de bailarinas é que está fora de questão. "Seria a receita perfeita para a falência do negócio", considera.

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