Charles Darwin terminou a sua célebre viagem de circum-navegação de cinco anos a bordo do "Beagle" nos Açores, e durante seis dias visitou o interior da ilha Terceira, mas escreveu uma frase que os cientistas têm vindo desde então a considerar totalmente errada: "Gostei imenso da visita, mas não encontrei nada digno de registo".
De facto, António Frias Martins, investigador do Departamento de Biologia da Universidade dos Açores, afirmou à Agência Lusa que "nos Açores há muita coisa digna de registo", porque o arquipélago, que tem uma grande biodiversidade e espécies animais únicas, é um verdadeiro laboratório natural que sustenta a Teoria da Evolução.
Os cientistas açorianos querem provar que o famoso naturalista britânico se enganou e para isso vão organizar entre 19 e 22 de Setembro um simpósio internacional sobre o tema "O erro de Darwin e o que estamos a fazer para o corrigir".
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(Os Açores têm espécies de aves únicas em todo o mundo)
O evento contará com a participação de especialistas norte-americanos de renome mundial como Lynn Margulis (Universidade de Massachussets), Bruce Libermann (Universidade do Kansas) e o casal Rosemary e Peter Grant (Universidade de Princeton), que já estudou os tentilhões dos Açores.
Ao mesmo tempo têm um ambicioso projecto, a inaugurar a 19 de Setembro, para ilustrar a história da Vida ao longo de um percurso de 46 km na ilha de S. Miguel, entre Ponta Delgada e a Ponta da Madrugada, no extremo leste da ilha.
"O Trilho da Vida" vai percorrer os 4,6 mil milhões de anos da idade da Terra num percurso marcado por pavilhões - dinamizados pelas autarquias e escolas - com exposições sobre os principais acontecimentos da história da Vida, como a emergência das primeiras bactérias, o aparecimento das plantas e dos animais, a vida e morte dos dinossáurios ou as etapas da evolução humana.
O único português que se correspondeu regularmente com Darwin - entre Junho e Novembro de 1881 - foi precisamente um naturalista açoriano, Francisco Arruda Furtado. A sua história é contada no livro "O português que se correspondeu com Darwin", de Paulo Renato Trincão (professor da Universidade Aveiro), que será lançado brevemente pela editora Gradiva.
A investigação científica recente tem, sem dúvida, consolidado a ideia de que os Açores são um arquipélago de eleição para provar a diversidade da evolução através da selecção natural tal como Darwin a defendia.
Um dos exemplos, citado pela revista National Geographic, são os estudos feitos sobre o painho-da-madeira, uma ave marinha típica das ilhas do Atlântico (incluindo a Madeira, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe), mas onde foi descoberta uma espécie única nos Açores com apenas 250 a 300 casais. Única em termos genéticos, nos cantos e vocalizações, nas épocas de muda ou no comportamento alimentar.
Outra espécie única é o priolo, uma ave da floresta laurissilva de S. Miguel, que está a ser alvo de uma campanha de recuperação do seu habitat coordenada pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), por estar ameaçada de extinção. A laurissilva é, aliás, uma floresta também com características únicas, que só existe nos Açores e na Madeira.
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(A floresta laurissilva só existe nos Açores e na Madeira)
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