O cibercriminoso Ricardo Pereira invadiu 140 contas online. Foi condenado a dois anos de prisão. O quartel-general dos cibercriminosos tinha sede num bairro operário a sul de Londres. As vítimas eram clientes endinheirados de um banco escocês. Os milhares de libras roubadas iam parar a contas-fantasma em Moscovo e Kiev. Os hackers eram oriundos de quatro continentes.
O único português envolvido neste gangue internacional, Ricardo Pereira, de 36 anos, era o mais velho e um dos mais influentes neste golpe informático que rendeu mais de 700 mil euros. O esquema era tão sofisticado que foram necessários mais de 50 agentes da Scotland Yard para desmantelar o grupo, a 8 de Abril deste ano. A polícia só conseguiu recuperar um terço do dinheiro. "O resto continua desaparecido", concluiu o juiz inglês Peter Testar, quando leu a sentença, dia 13 deste mês, num tribunal de Londres.
Ricardo Pereira, mais conhecido no submundo pela alcunha de Paulo Jorgi, foi condenado a 21 meses de prisão. O líder, o estudante universitário de 25 anos, Azamat Rahmonov, apanhou mais do dobro da pena, bem como Shohruh Fayziev, ambos do Uzbequistão. O angolano João Cruz também foi preso, ao contrário do venezuelano Edgar Henriques, que desapareceu de circulação.
Os ataques cibernáuticos começaram no início do ano. O grupo escolheu como alvo alguns clientes do NatWest, uma instituição bancária que pertence ao Royal Bank of Scotland. Conseguiram instalar um software invisível, através de e-mails aparentemente inócuos, nos computadores das vítimas. Quando elas acediam à conta online do banco, iam parar na realidade a um site falso, criado pelos hackers, com o mesmo logótipo do NatWest. O cavalo de Tróia informático chama-se PSP2-BBB e é o mais usado pelos piratas da Internet.
Com o pretexto de que o banco estava a aperfeiçoar as medidas de segurança, pediam aos clientes para introduzir a sua palavra-passe, o NIB e até o número de telelemóvel. Bastava esse passo em falso para que o gangue ficasse com as vítimas na mão. Em poucos dias esvaziavam as suas contas. Nalguns casos, o banco só se apercebia do logro passada uma semana, quando já era tarde de mais.
As libras aterravam numa conta controlada pelo grupo, na Ucrânia. Era aqui que o português entrava. A sua especialidade era a lavagem do dinheiro, que era distribuído por outros bancos, espalhados por vários países da Europa de Leste, com o objectivo de despistar as autoridades. Por cada operação, Ricardo Pereira ganhava uma comissão choruda.
A fraude financeira garantiu ao grupo pelo menos 700 mil euros, só entre os meses de Fevereiro e Abril. O banco apenas conseguiu recuperar 150. "Entretanto, os clientes foram todos ressarcidos", garante um responsável da NatWest.
A Scotland Yard suspeita, no entanto, que uma parte do grupo continua activo. E talvez conte com a ajuda da máfia russa.
O homem quase invisível.
Para entrar em acção, Ricardo Pereira nem sequer precisava de sair de casa, situada na zona de Barking. Bastava-lhe um computador e software de última geração. As autoridades inglesas suspeitam que o português visitasse com frequência a residência do chefe oriundo do Uzbequistão, que vivia do outro lado do rio Tamisa, a oito minutos de carro. Nas buscas policiais, foi encontrado material incriminatório em casa de Azamat, incluindo cartões de crédito de contas bancárias que haviam sido usurpadas.
Ao contrário do que acontece noutras zonas da capital inglesa, a comunidade portuguesa escasseia no sudoeste de Londres. O Expresso enviou a fotografia de Mister Pereira, via e-mail, aos poucos restaurantes e pubs geridos por emigrantes lusos, mas ninguém reconheceu o seu rosto. Nos estabelecimentos frequentados por africanos, a sorte não foi diferente. "Nunca cá veio".
Para adensar o mistério, Ricardo Pereira não se registou no consulado de Portugal, em Londres. "Ao que parece ele não tem na sua posse qualquer documento de identificação e sem os dados mínimos é muito difícil obter confirmação de que seja português", diz uma fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Graeme Irvine, o advogado do português neste processo, recusa-se a prestar declarações: "O meu cliente não me deu autorização para falar".
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