sábado, 11 de julho de 2009

Rádio promove espécie de "Ponto de Encontro" inqualificável.

Rádio australiana emite um programa que permite aos participantes verem familiares com quem tinham perdido o contacto há anos. Separados por um vidro, só se podem tocar depois de responderem a três questões. Se falharem nem haverá contacto!
A rádio australiana B105 emitiu ontem um programa que permitia a uma mulher reunir a sua família, caso respondesse correctamente a algumas perguntas. Uma espécia de "Ponto de Encontro", programa apresentado por Henrique Mendes na SIC na década de 1990, mas que deixa completamente de lado a questão humana e do sentimento dos participantes.

Evonne Zipf não tinha contacto com o seu irmão Anthony - que vive na Hungria - há 20 anos, enquanto este nunca tinha visto a sua filha de 17 anos e só soube da sua existência em 2007.

Terapeutas familiares chocados.
Especialistas em aconselhamento familiar ficaram chocados com a possibilidade de Evonne Zipf só poder ver o irmão Anthony - que viajou da Hungria para Brisbane, na Austrália, a expensas da rádio B105 - se acertasse nas perguntas que o programa tinha preparado para ela.

Chegado à Austrália, Anthony teve de esperar nos estúdios da rádio, atrás de um painel de vidro, sabendo que só se conheceria a sua filha e veria a sua irmã se Evonne não falhasse no questionário.

Com uma resposta correcta, Anthony poderia ficar por uma hora; duas respostas correctas davam direito a duas horas, enquanto se Evonne acertasse nas três questões colocadas, ele poderia ficar o tempo que quisesse.

Quem falhe tudo nem toca no parente.
Contudo, se a sua irmã não conseguisse acertar em nenhuma questão, Anthony seria imediatamente levado de volta para a Hungria, sem a possibilidade de haver qualquer contacto pessoal.

Depois de uma nervosa espera, acentuada pela transmissão de um bloco noticioso, Evonne conseguiu acertar em duas das três perguntas que lhe foram colocadas. A australiana não se lembrou de um dos dois desportos que Anthony praticava quando era mais novo, o que a fez entrar num choro convulsivo: "Desculpa! Desculpa! Não me lembrei do criquete. Sinto que desiludi todos".

Antes, Evonne tinha revelado aos apresentadores do "Dearly Deported" - assim se chama o programa -, entre lágrimas, que pensava que o seu irmão estava morto.

Camilla, co-apresentadora do programa, afirma que "foi fantástico" fazer parte da reunião temporária. É que, como Evonne não acertou em todas as perguntas, Anthony teria de ser enviado para a Hungria num espaço de 24 horas.

Robert Schweizer, professor da Escola de Psicologia e Aconselhamento da Universidade de Queensland, diz não querer acreditar que os responsáveis da rádio tenham tido esse comportamento. "Não posso crer que eles juntem membros da família com a ideia de 'há uma opção para se reunirem' e depois meterem-se no caminho dessa reunião", afirma o docente.

Judith Murray, da Universidade de Queensland e especialista em interrupção de relacionamentos, também defende uma opinião semelhante: "O respeito pelo afecto e pelas relações humanas é tão importante que não podemos fazer nada para as denegrir de forma alguma".

Rádio lava as mãos.
Um representante da B105 alega que os participantes do "Dearly Deported" conhecem as regras do programa quando aceitam participar e que a estação radiofónica tinha disponibilizado um conselheiro para trabalhar com os elementos da família caso Evonne não respondesse correctamente às perguntas durante o programa.

"Esta é uma oportunidade que Evonne e Anthony não tiveram na semana passada, no último ano ou nunca. É uma oportunidade para se reunirem que nunca teriam, claro que todos na B105 querem desesperadamente que acertem as três perguntas e, assim, ficarem com o bilhete de regresso em aberto durante um ano", explicou.

Sem comentários: