sábado, 17 de outubro de 2009

De ir às lágrimas. Uma extraordinária história de convivência entre um animal selvagem e seres humanos.

Na selva africana, um leão recebeu de patas abertas e unhas encolhidas os dois jovens que o tinham adoptado em bebé. É ver e, quase por certo, chorar no YouTube. O relançamento do livro sobre a história justifica mostrarmos-lhe novamente o vídeo.

As imagens do vídeo, filmado numa reserva em África, falam por si: Christian, um leão com 2 anos, corre ao encontro de dois jovens australianos, reconhecendo e saudando os companheiros, após um ano de separação os rapazes tinham-no comprado e criado em Londres. Para arrepiar ainda mais, ouve-se, em fundo, a voz de Whitney Houston, a cantar I Will Always Love You. É ver e, quase por certo, chorar no YouTube. O vídeo que foi lançado na net em finais de 2007 e visto por mais de 60 milhões de pessoas, em centenas de sites, motivou convites de Hollywood e de programas de TV aos dois amigos. Christian já não é vivo. Mas continua a ser uma celebridade.

As imagens retratam momentos de uma rara e salutar convivência entre um animal selvagem e seres humanos.

Captadas para um documentário, em 1971, no Quénia, um ano após a referida separação, explodiram, de repente, na web, para surpresa dos próprios protagonistas.

"Apenas sabemos que o 'clip' foi inserido no blogue de uma rapariga americana, que o tinha localizado num site japonês", conta à VISÃO John Rendall, um dos dois autores do livro Um Leão Chamado Christian, agora reeditado e actualizado (Editora Presença, 164 págs., €13,60). John Rendall e Anthony Bourke (Ace, de diminutivo), amigos e colegas de faculdade, hoje sexagenários, responderam, com a reedição do livro, já traduzido em mais de 15 países, ao apelo dos fãs.

HISTÓRIA ETERNA.
A saga iniciou-se quando os finalistas de Belas-Artes John e Ace, então com 23 anos, deixaram a Austrália, rumo a Londres.

"Era aí que tudo se passava na cena artística, não podíamos perder isso", recorda Rendall. Em pleno auge do movimento hippie, era normal encontrar uma cria de leão à venda, nos armazéns londrinos Harrods. "Estava longe dos nossos planos comprá-lo, mas, ao vê-lo ali, numa jaula tão pequena, não resistimos a fazê-lo", relata John.

Com quatro meses, Christian transferiu-se para um ambiente novo, em que o exercício diário, no jardim, passou a fazer parte da rotina. Em dois dias, apenas, adaptou-se ao apartamento de John e Ace e à loja de mobiliário antigo, no mesmo prédio, onde um dos jovens trabalhava, atraindo as atenções da clientela e dos residentes na zona, ao ponto de criar situações caricatas. Como aquela em que automobilistas batiam nos carros da frente, ao verem o animal a exibir-se, na montra da loja. "Depressa aprendemos que a única forma segura de viver com um leão era pensar sempre à frente", lembra John.

Mas, com sete meses e 65 quilos, a criação de Christian tornou-se complicada de gerir. Até que John e Ace foram apresentados a George Adamson, dono de uma fundação com o seu nome, no Norte do Quénia, que ficou encantado com a possibilidade de reabilitar o leão. Obtida a autorização do Governo queniano, foi o fim da vida urbana para Christian e a despedida, após meses irrepetíveis, recheados de recordações.

A experiência foi decisiva para os dois australianos: John, jornalista e relações públicas, dedica-se a projectos de conservação da vida selvagem, à semelhança de Ace, especialista em arte aborígene, no seu país natal. E Christian? "O facto de não termos sabido mais nada dele", diz Rendall, "foi um sinal de que tudo correu pelo melhor."

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