Vai ser preciso afinar as observações e a modelização da nuvem de cinzas - e até, talvez, colocar novos equipamentos a bordo dos aviões.
O glaciar Eyjafjalla, no Sul da Islândia, costumava ser branco, como são normalmente os glaciares. Agora, porém, a quase totalidade da sua superfície está preta, devido à acumulação das cinzas cuspidas nas últimas semanas pelo vulcão do cimo do Eyjafjallajökull (jökull é "glaciar", em islandês). Assim descrevem José Luis Fernández Turiel e colegas, do Conselho Superior da Investigação científica espanhol, a paisagem com que se depararam quando viajaram para o local na semana passada. Os investigadores, citados pela agência Efe, dizem que os efeitos negativos sobre o espaço aéreo europeu vão continuar - porque a erupção não vai parar.
Nestas condições, o que irá acontecer nos próximos tempos? Vamos continuar a ter de sofrer, ciclicamente, as consequências do cancelamento maciço de voos aéreos, como tem acontecido em Portugal e noutros países europeus desde Abril? Ou haverá maneiras de minimizar o caos no espaço aéreo, evitando assim pesadas facturas para a economia mundial, mas sem sacrificar os níveis de segurança dos transportes aéreos? E, mesmo que esta erupção acabe daqui a uns meses, será que nos podemos dar ao luxo de ignorar que poderá haver outras no futuro?
O modelo matemático utilizado desde o início da erupção para simular - e portanto prever - a dispersão na atmosfera da nuvem de cinzas expelida pelo vulcão foi desenvolvido, depois do desastre de Chernobil de 1986, para seguir o rasto à nuvem de cinzas radioactivas então cuspidas pela explosão do reactor nuclear soviético. Como explicava há dias a revista Nature, o modelo "permite calcular como as partículas se difundem na atmosfera - a que distância, velocidade e altitude - com base na velocidade e na direcção do vento e na concentração, composição e tamanho das partículas de cinza".
Simular e observar.
Este modelo tem sido muito criticado desde Abril, em particular pelas companhias aéreas, que acham que as autoridades aeronáuticas europeias deixaram muitos aviões desnecessariamente em terra. Mas se a maior parte dos cientistas não parece ter dúvidas sobre o modelo em si, já não se pode dizer o mesmo de uma variável crucial para o modelo funcionar. "O modelo é bastante bom", disse-nos pelo telefone Pierre Flamant, do Laboratório de Meteorologia Dinâmica de Palaiseau, perto de Paris. "O problema é saber qual a quantidade de matéria que sai do vulcão. Sem isso, a previsão da distribuição das cinzas estará errada."
Ora, foi esta situação que se verificou em Abril: ninguém sabia ao certo a quantidade de matéria emitida na fonte. Mas, durante o mês de Maio, uma missão científica do Instituto de Física da Atmosfera de Wessling (Munique) sobrevoou a área em volta do vulcão e conseguiu recolher dados mais certeiros: sabe-se agora que o vulcão produz três toneladas de cinzas por segundo e que elas permanecem suspensas no ar durante pelo menos sete horas. "Estes dados vão permitir calibrar o modelo utilizado para a previsão de forma a determinar exactamente a quantidade de cinzas presentes no ar", disse na altura Ulrich Schumann, director daquele instituto alemão, citado pela AFP. Porém, a simulação matemática só será válida se for acompanhada por monitorizações terrestres, aéreas e a partir de satélites.
"Já existe uma rede de vigilância", diz-nos Flamant. A rede é a Earlinet, uma rede de 21 lidares, aparelhos que funcionam à maneira dos radares mas são capazes de detectar partículas em suspensão até aos 15 quilómetros de altitude. E acrescenta: "A União Europeia vai ter de apostar neste tipo de previsão. É evidente que, se isso acontecer, os cientistas vão poder desenvolver ferramentas que, dentro de uns anos, forneçam resultados fiáveis".
Uma ferramenta que nunca chegou a ver a luz do dia e que, na situação actual, poderia ter marcado a diferença, foi proposta em 1991 por Fred Prata, do Instituto Norueguês de Estudos Atmosféricos. Este investigador tinha sugerido a instalação, a bordo dos aviões, de monitores que, associados às leituras dos radares, permitissem a detecção pelos pilotos de eventuais nuvens de cinzas, que poderiam assim ser contornadas, evitando o perigo. "Se os aviões tivessem entretanto sido equipados com esse sistema", desabafou Prata à revista Nature em plena crise do espaço aéreo europeu no mês de Abril, "neste momento, eles estariam no ar".
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