Foi há mais de 70 anos que os aparelhos de televisão começaram a ser vendidos, e há alguma coisa que me diz que foi igualmente ao mesmo tempo que uma mãe cautelosa, ao reparar que um filho ou filha se pespegavam embasbacados em frente da nova invenção, dizia bruscamente as palavras que as crianças cresceram a ouvir dizer desde então: "Afasta-te do ecrã. Vais dar cabo dos olhos!" Alguma pequena diferença entre essa altura e agora?
Hoje os cientistas podem dizer com toda a certeza que o aviso é falso. Antes de 1950, os aparelhos de televisão emitiam níveis de radiação que, após exposição repetida e alargada, podiam ter um maior risco de problemas de olhos nalgumas pessoas.
Vários estudos levados a cabo antes de 1970 mostraram que os níveis de radiação emitidos pelas televisões eram perigosamente altos. Alguns até emitiam raios X. Uma pequena percentagem estava até acima do limite recomendado de cerca de 0,5 milirems por hora.
Mas as televisões modernas são máquinas bastante diferentes. Não só são feitas com melhores protecções, também usam voltagem mais baixa, por isso a radiação já não é um problema. Segundo alguns estudos, a dose de radiação média sofrida por uma pessoa que vê televisão regularmente e se senta a poucos metros do aparelho é de cerca de 1 milirem durante um ano - cerca de um décimo da quantidade de radiação que se sofre com uma única radiografia ao tórax.
"Isto não são histórias da avozinha, é uma história de tecnologia antiga", observou Norman Saffra, o director de oftalmologia do Maimonides Medical Center, em Nova Iorque. "No mundo onde viveram e cresceram as nossas avós, era uma recomendação apropriada".
Mas essa época já passou. Sinta-se à vontade para se sentar tão perto da televisão quanto queira - quer seja para ver melhor aqueles médicos fantásticos de 'Anatomia de Grey' quer para testar a teoria que, se se sentar suficientemente perto, será transportado lá para dentro.
Tenha em mente, porém, que apesar de a concentração num ecrã durante horas a fio possa não causar cegueira, pode dar tensão ocular. Manter a sala razoavelmente iluminada enquanto a televisão está acesa e tirar os olhos do ecrã de vez em quando pode ajudar a prevenir isto.
Os pais também deverão estar atentos à criança que se arrasta furtivamente para mais próximo do ecrã. Claro que não é pela radiação, mas porque é um sinal de que o seu filho poderá precisar de óculos.
Um repórter de ciência e saúde.
Anahad O'Connor, de 27 anos de idade, nasceu e vive em Nova Iorque, licenciou-se em psicologia pela Universidade de Yale e é repórter do The New York Times desde 2003, cobrindo nomeadamente as áreas da ciência e da saúde. Tem ainda uma coluna semanal no mesmo jornal, a "Really?", que sai à terça-feira na secção Science Times. Quem quiser pode pôr-lhe qualquer questão sobre saúde. Basta enviar um mail para sctimes@nytimes.com e esperar pela resposta. O próprio repórter faz um apelo aos leitores do seu livro para lhe enviarem "uma pergunta persistente sobre saúde que tem andado a incomodá-lo e que gostaria de ver respondida".
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