domingo, 10 de janeiro de 2010

Imigrantes na Calábria deslocados após confrontos raciais.

Centenas de imigrantes foram hoje retirados da cidade de Rosarno, na Calábria, Sul de Itália, após os violentos confrontos que duraram 48 horas e de que resultaram 67 feridos. A calma voltou à localidade depois de terem sido mobilizados mais 200 polícias para a região.

A violência começou depois de dois negros terem sido feridos por jovens brancos. Milhares de africanos juntaram-se em frente à autarquia de Rosarno para protestar, houve carros incendiados e vidros partidos, mas hoje as lojas voltaram a abrir. No entanto, a polícia adiantou que, de manhã, outro imigrante foi alvejado e ficou ferido.

“Se não partimos, morremos”, explicou à AFP Francia, um ganês de 25 anos que abandonou Rosarno mesmo sem o salário que iriam pagar-lhe. “Temos medo, já não há nada para nós aqui”, acrescentou Ali, que abandonou a Rosarno sem ir buscar o seu salário de 500 euros.

Das 67 pessoas que ficaram feridas nos confrontos, 31 são imigrantes, 19 são polícias e 17 são italianos que moram na região da Calábria.

O Governo ordenou o reforço policial, mas a tensão entre os italianos que vivem na região e os imigrantes manteve-se e a polícia começou a deslocar os africanos para outros locais. Durante a noite de sexta-feira foram transferidos 320 imigrantes para um centro de acolhimento em Crotone, a cerca de 170 quilómetros de Rosarno. A deslocação de outros 300 está a ser preparada e estima-se que cerca de uma centena tenha fugido pelos próprios meios.

Logo na sexta-feira o chefe da polícia italiana, Antonio Manganelli, ordenou o envio de um reforço policial para a região, de cerca de 200 efectivos, para conter a violência e preparar a evacuação, adiantou o diário Corriere della Sera.

Um jornal de direita italiano, "Il Giornale", pertencente ao grupo de media do primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, publicou um editorial em que se lê que “desta vez os negros têm razão”. E acrescenta: “Os imigrantes clandestinos não devem entrar em Itália. Mas, uma vez que cá estão, não os podemos explorar de maneira horrível.”

Em toda a região da Calábria trabalham 50 mil estrangeiros, sobretudo na apanha de fruta, e desses mais de 1500 vivem em fábricas abandonadas. Só em Rosarno estão cerca de 4000 imigrantes, grande parte em situação ilegal, e o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados denunciou a situação em que vivem, com “salários de miséria” e em “condições desumanas”.

O ministro italiano do Interior, Roberto Maroni, justificou em declarações ao La Repubblica a violência em Rosarno com o facto de a imigração ilegal ter sido “tolerada durante anos sem que nada tenha sido feito”. Mas o líder da oposição, Pier Luigi Barsani, considerou que os principais problemas são outros: “Máfia, exploração, xenofobia e racismo.”

Sem comentários: